quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Traz a verdade aqui,


Onde a ferida ainda inflama
E a resistência clama
pela compreensão do amor.


Traz a verdade aqui,
na ponte que liga 
minha mente ao coração,
e nas paredes mais finas
da emoção.


Traz a verdade aqui,
na espera do sonho 
que anseio ver,
e no dia que hoje
acordei para viver.


Traz a verdade aqui,
onde em silêncio me vês,
onde em tuas mãos me tens..


Traz aqui,
na minha humanidade
a verdade que revelastes..

Aqui,
no desastre das mentiras,
Em tua verdade,
me refugia..

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

'Sinto, logo não entendo'

Sem foto
como um pedaço sem borda
Sem descrições
como o começo das paixões


E no mais,
o brilho opaco da manhã
me chama para amar
Sucinto,
beija-me ao acordar


Sem disfarce
como olhares sem óculos 
Sem medo
como uma corda que ainda não rasgou


E no mais,
bordas, paixões,
olhares e cordas
não me interessam
se não têm coração.


Quero somente,
e,
insistentemente,
a vida que bate na alma de quem tenta..

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

(Ver)dade


- Sem precisar fingir, disse-me ele.

Tudo bem, eu não estava interessada em mentir mesmo. Afinal, ele não conseguiu discernir isso na minha face? Cheguei exausta, a ponto de perder a fé nos meus próprios pés.
Mas esperei, como sempre fazia naquelas tardes quentes. Estávamos agora lado a lado num banco de concreto tão cinza quanto o mar á nossa frente.
Ele me olhava quieto e convicto, amava me sondar. Eu? Estava observando o mar e buscando abraçar o vento, quando ele interrompeu meu sonho real:
- Eu sei que você procura ver um novo dia, ter uma nova inspiração. E hoje queria lembrar você que já tem. Eu vi quando você chegou, mesmo cansada acredito que podes desbravar os mares, se assim quiseres.
A sensação de ouvir aquelas palavras foi a mesma que deitar em uma cama sem cobertor; era a verdade pura e solitária.
De uns tempos pra cá tenho insistido na tarefa de me encontrar. Em alguns momentos olhar o mar, caminhar, viajar, ajuda-me no objetivo. Mas nada mais certeiro que a verdade. A verdade sobre mim e sobre a minha história; a verdade sobre as escolhas e sobre a minha memória.

Hoje encontro-me em lugares onde a verdade da conquista têm vindo da verdade da tentativa;
Onde a verdade do acerto é construída através da verdade do meu erro;
Onde a verdade da realização vem da verdade dos meus sonhos;
Onde a verdade do meu sorriso têm vindo da verdade das minhas lágrimas;
E onde a verdade das minhas ações provém da verdade dos meus pensamentos..

- Como molhar os pés na água do mar e logo em seguida pisar na areia,
assim é a verdade: gruda na alma que a encontra, despediu-se ele nestas breves palavras.
Ali, decidi continuar. Afinal, o mar à nossa frente abria-se num convite esperançoso, e eu aceitei...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A vida sempre é. Nunca era, ou será.


O que acontece quando me sinto perdida e falha? Para onde devo me mover se os meus conflitos me enraizam ao chão? Estou quieta e lúcida, em nenhum momento esquecida. Aflita e segura, certamente errada. Não há como em mim confiar. Tenho inúmeras amostras do que é não amar e estou longe de querer viver desta maneira, à maneira dos outros, daqueles que também não querem viver da minha forma. 


Quero crescer, e viver da forma que o meu criador quis ao me entretecer. Quero agradá-lo momento após momento até que a eternidade se apresente a mim. Quando olhamos uma paisagem pela janela de vidro, esquecemos muitas vezes de olhar nosso próprio reflexo que é a primeira paisagem que nos é concedida. Queremos imediatamente olhar o que é alheio a nós, o que não somos, não temos e não construímos. Esquecemos de olhar os nossos olhos, sendo que os mesmos jamais esquecem dos sonhos que guardam, e que, se olhados, os derramariam sem sequer pedirem permissão. 


Assim, preferimos contemplar um Deus que é distante, friamente existente e inpenetrável. Preferimos uma relação de negócios e não de íntima comunhão. Não queremos olhar em Seus olhos, pois eles sim estão cheios de sonhos que querem inundar nossa existência. Esquecemos que ele está vivo. Desprezamos a vida que carregamos dentro de nós. Muitas vezes a morte nos atrai. Gostamos daquilo que não se meche, não dá mais trabalho e não precisa de investimento; de tempo, de amor, de cuidado. 


Contudo, a vida é movimento, mistura, temperatura, sentimento, despreendimento, corridas ao vento.
É dádiva sem merecimento, é um abraço cheio de acolhimento. 
Defini-se por si mesma, constrói fortalezas, concede-nos destreza.


A vida sempre é. Nunca era, ou será.


Ela é uma constante que, como um viajante, precisa subir morros, descer montanhas, molhar-se na chuva, apreciar o sol, secar-se ao vento, alimentar-se no caminho. 
Não se limita a nossa morte, é apreciada em pequenas estrofes.
É um quadro sem moldura, espalha-se a cada nova gravura. 
Impossível descrevê-la nas palavras mais expressivas, 
pois a vida possui o padrão de quem a fez,
É eterna.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sê forte


Os fortes são sólidos, não optam pelo vazio vacilante.
São intensos, à beira do lago, decidem mergulhar.
São aptos, procuram decifrar o que vêem, utilizando para isso suas mentes e ouvidos.
Não se apegam ao acaso, mas desfrutam de um futuro certo.
Não são excepcionais, apenas trabalham com a simplicidade que os cerca.
Eles não deixam de sentir frio, contudo movem-se decididamente contra o vento.
Não possuem o hábito de desprezarem as diferenças, pois conhecem muito bem suas limitações.
Não sabem responder à todas as questões, não conseguem realizar tudo, não compreendem todas as mazelas ao seu redor.
O fortes assim o são, pois à medida que descobriram suas fraquezas resolveram pintá-las com a tinta da esperança e da perseverança.

...Ser forte não é um conjunto de negações ao desespero, ao desânimo ou ao medo.
Ser forte é fixar-se profundamente Naquele que sabe lidar com a fraqueza mas não a possui, e dali jamais retroceder.

É invisível


Hoje as palavras não querem construir frases,
querem apenas distribuir o que são:
sentimentos espassados, gritos em sílabas,
sonhos em cores, desejos sem sabores..

Hoje os sentimentos não querem ser lidos,
apenas percebidos..
Hoje as mãos não querem transferir para o papel
a correnteza sólida do que sinto..
Hoje, e só hoje, quero sentir e mudar, mudar e sentir..

Hoje, quero dormir sentindo o sono, não só o cansaço do dia
Quero expandir meus músculos de cristais e minha força frágil,
Assim, resplandeço a cada novo momento..

Sou tudo o que perdi, mas em alto relevo sou o que aprendi:
Quando me sentei e esperei a chegada,
Quando observei as minhas pegadas,
No momento em que amei as folhas voando com o vento seco e vitalício,
Nos dias do inesperado encontrar,
Nas tardes rosas do caminho à trilhar..

Estou querendo viver agora, e se isso for demais, não me diga..
To com vontade de ser, e disso não quero esquecer,
Até porque, sempre denovo volto à escrever..

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Graça feminina


A mulher que nunca deixa de ser menina, é a que com gestos se desfaz em poesia; é de repente fogo e água fria; é tristeza e firme alegria; é saudade cheia de novidades. 
A mulher que sem receios conversa com os seus sentimentos, sabe muito bem do que é feita. Cabe doçura e esperteza dentro de cada caixa da sua realeza; arruma dentro de si pedacinhos de histórias, lágrimas, conquistas, amores e sem demora envolve em seus dedos fitas de segredos que só podem ser desatadas rumo ao infinito.
A mulher que sem maquiagem é menina grande; a mulher que sem vantagens é irmã do meio; a mulher que cheia de coragem é a esposa de um guerreiro, carrega consigo milhões de anseios, que só com olhos límpidos e sinceros, como água cristalina, é que podem ser conhecidos e respeitados.
A mulher caminha pela trilha da delicadeza; se vê muito entre duas certezas e tira forças da fraqueza. À espera de suas mãos: tecidos para costurar, filhos para arrumar, esposo para amar; sedento pelo seu coração: um lar para edificar. 
Mulher, cheia de exatidão procura o caminho para a ação. Na sensibilidade, descobre cachoeiras de bondade. Na angústia, explode de fragilidade. 
A mulher, como o sol, desperta ao amanhecer e se põe suavemente ao anoitecer, sem jamais perder o brilho que a enaltece. O brilho da leveza e da ternura de poder nutrir outra vida sem desfazer-se da sua. 
Mulher: alma tecida por minúcias do cuidado, cheia de surpresas,  inspira a vida como uma pérola colhida; e como flor num jardim, floresce à medida em que doa a si mesma para os ventos de transformações..


Ah...migos!


Além de carregar nos braços, a amizade carrega no coração.
Muito mais que viajar o mundo, a amizade descobre os defeitos e mergulha nas qualidades.
Não só constrói intimidade, mas desfruta dela à quilômetros de distância.
O amigo sente o outro, não somente quando precisa dele.
O amigo é sempre o outro que se parece tanto conosco mas que se torna simplesmente incomparável.
Apesar de esperar um abraço, a amizade é aquela que doa os braços.
Amigo não tem apenas dedos que apontam ou frases que condenam, cinjem-se antes de olhos que acariciam e ouvidos que compreendem.
Nem sempre possuem a mesma opinião, mas na hora da fome repartem o pão.

Amizade, o que move teu enredo é a simplicidade de esperar o outro e nem sempre ser contemplada.
Tu, unes alegria à saudade, num misto sereno de lealdade.
Abres, fechas; cresces e te aprofundas no caudaloso rio das diferenças.
Esmeras, admiras e te inquietas com as curvas percorridas na estrada das almas...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cá estou

Inspirada na frase de Clarice Lispector: "Um pedaço de espelho, é um espelho todo", cá estou..


Mas este começo é diferente. Está acontecendo no fim...no fim de um ano, no fim de muuitas estações. O fato é que acredito que o fim não é o final, portanto, cá estou..

Pequenas estrofes formam grandes poesias. Pequenos momentos aviltam a beleza da vida. Pequenos, pequeninos..somos pedacinhos inteiros num momento chamado agora...

Portanto, se eu me ver em fragmentos estarei certa de que faço parte de um todo. Mesmo que este, por vezes, seja invisível..